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Rabisco para a Conferência no ISEC

A Lutra é a combinação de três elementos, que há uns anos eram para mim separados, a natureza, a educação (ensino das ciências) e a sustentabilidade. Provavelmente estavam separados por pura ingenuidade de recém formada e com pouca experiência profissional!


Durante a minha experiência como docente no ensino superior encontrei forma de combinar estes três elementos. Quando me foi proposto ensinar ciências na formação de adultos, ao inicio, acreditei que era falar, comunicar, ensinar o que tinha estudado e investigado nos últimos anos como bióloga. Bem, venho a descobrir que afinal, não era bem assim. Simplesmente não estava a conseguir fazer com que as pessoas compreendessem conceitos que para mim era simples de entender. Foi um pouco frustrante querer ensinar o que eu mais gostava e não estar a conseguir passar a mensagem.


À semelhança de outros aspetos da minha vida, não costumo dar-me por vencida e recebendo sugestões de quem trabalhava comigo, comecei a investigar em como ensinar ciências, para quem não estava lá muito interessado em aprender sobre o assunto. Investiguei e estudei bastante mas, mesmo assim não me consegui identificar com os artigos que mostravam as experiências de sucesso vindo de outras instituições a nível mundial.


Desta forma, comecei a pensar em como é que que tinha aprendido sobre as ciências da natureza, biologia, bichos, plantas e tudo o que preenche o nosso mundo natural. A resposta foi simples: foi a mexer nas coisas! A estar em marinas, em lagoas geladas, no campo, a dissecar peixes e aves, a subir árvores ou a mergulhar nas águas mágicas dos Açores.


Assim, cheguei ao ensino outdoor. "The last Child in the Woods" de Richard Louv foi dos 1º livros que li sobre o tema e a partir daqui tudo passou a fazer mais sentido.

A natureza faz parte de nós, a história da humanidade é contada pela nossas conquistas ao longo de milhares de anos, nas maiores adversidades com os elementos naturais muitas vezes ferozes. Foi na natureza que nós evoluímos, crescemos e aprendemos, e essa informação ficou gravada no nosso DNA. Infelizmente, e não sei muito bem como, fomos perdendo esse laço, essa conexão que nos deu sempre tanta identidade.


Felizmente quando somos crianças e jovens, ainda não muito transformados pelo mundo agitado dos adultos, as crianças preferem esta na rua. É o local ideal para se expressarem, seja física, emocional e/ou socialmente. Com o seu corpo aprendem a descobrir-se, a conhecerem os seus limites, as suas melhores e mais fantásticas capacidades, a relacionarem-se com os outros e com o que os rodeia.


A possibilidade de poder mexer num insecto, num musgo, saltar nas poças da chuva ou ouvir as aves, desperta nos seus cérebros esponja brilhantes uma quantidade de informação que não seria possível dentro de uma sala de aula, daí ser tão importante existir a possibilidade de combinar a sala de aula com a rua, porque as duas juntas tornam a educação num local mais mágico para se estar. Estar outdoors, não é uma perca de tempo é um ganho de tempo! Vou saber mais de um escaravelho se puder vê-lo, tocar-lhe, observar, ver como ele se comporta no seu espaço natural, do que através da fotografia de um livro.


Aprender ao ar livre não é o mesmo que levar a sala de aula lá para fora, nem tão pouco levar a função (formal e tradicional) de ser professor/educador. Estar na natureza, na rua ou jardim é o domínio da criança, um local mais democrático para aprender acerca do mundo e de ser humano, onde nos relacionamos com pessoas, locais e tudo é explorado e desenvolvido pela criança. É extremamente importante não nos esquecermos das características próprias, especiais e diferentes que o brincar ao ar livre oferece ás crianças.


Assim, conseguimos oferecer uma experiência repleta de oportunidades, um espaço onde eles podem ser eles próprios, experiências directas, contato com elementos naturais e liberdade para serem espontâneos, exploradores, aventureiros, desarrumados, sujos, ... Essencialmente, um ambiente que que oferece a possibilidade de criar relações pessoais, competências sociais e felicidade em estar com os outros.


A Lutra tem assim a missão de oferecer mais natureza, atividades nos mais diversos locais, que pode ser um jardim, uma praia ou uma floresta. Pode ser para pequenos e para grandes, para famílias ou escolas. Estar na natureza torna-nos mais despertos, curiosos; conseguimos acalmar o nosso cérebro e a nossa vida super agitada por uns momentos, oferecendo a possibilidade de estar mais livres, de vermos como a natureza continua o seu caminho e como nos mostra sempre algo que não sabíamos, tornando-a desafiante e divertida.


Estar na natureza é caminhar para uma educação para a sustentabilidade. Atualmente, temos uma sociedade a crescer e a evoluir a cada dia, onde o consumismo é promovido em todos os setores e parece que somos educados como seres ET que em nada dependemos do mundo natural. Para mim, e para este projeto, a necessidade de ligar pessoas à natureza e fazê-las compreender como estamos interligados é a minha missão. Não sou indiferente ao que se passa no mundo e o meu maior desejo é que todos compreendam o que estamos a fazer ao planeta e como o podemos tornam num espaço digno para todos. Quero sensibilizar pessoas, quero diz-lhes porque é que o lobo tem o seu papel, que o rio tem de correr e que as árvores e algas têm de crescer, para que possamos estar por cá mais uns anos.


A educação é, na Lutra, o fio condutor mágico que liga estes pontos. É a forma de comunicar, sem ser evasiva ou negativa, é mostrar como funcionamos, é rebolar na folhas secas do outono e saber ao mesmo tempo sobre folha caduca; é fazer castelos de areia e sabermos mais sobre correntes marinhas; é chapinhar nas poças de maré e ver um aquário vivo, cheio de potencialidades educativas. Ensinar ciências da natureza é conseguir ligar o que se passa na nossas mãos ao nosso cérebro e ficar gravado no nosso coração. Assim teremos aprendizagens significativas.


As atividades que temos desenvolvido têm sido na formação de adultos, atividades com crianças com escolas, câmaras e juntas e freguesia.

A oferta centra-se em estar o mais outdoor possível. As atividades são fundamentadas em teorias de aprendizagem como Forest School, Te Wairiki, Reggio Emilia, Charlote Manson, entre outros e uma pitada do programa educativo da National Geographic. Cada sessão é pensada para cada a instituição que nos procura, indo ao encontro do projeto educativo. As atividades podem ser sem materiais ou com materiais. Normalmente com pouco materiais, mas utilizamos lupas, cordas, lonas, binóculos. Estes são particularmente especiais, porque costumam ser os preferidos de quem se cruza connosco. Quando estamos com crianças posso dizer que as cordas são sempre especiais, porque elas transformam as crianças em alpinistas, montanhistas ou exploradores do gelo. As lupas são a magia, tornam o pequeno em grande, e afinal uma concha de caracol tem muito por descobrir. Os binóculos costumam ser uma mistura de sentimentos entre a frustração inicial de não ver nada, há maravilha de ver o longe tão perto.

Tudo é feito com uma aparente leveza e falsa sensação de ausência de planeamento, mas na verdade tudo é pensado, idealizado e concretizado respeitando as necessidade educativas associadas ao seu desenvolvimento.


No entanto, a liberdade é total para transformamos tudo à ultima da hora, porque como dito anteriormente este espaço é o domínio da criança, é o local onde se sente mais ela e se afinal não vamos descobrir os seres vivos debaixo de uma rocha, mas vamos saber o que é preciso para construir um baloiço numa árvore, está tudo a correr exactamente como previsto!




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