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Quando nos damos conta que o percurso afinal ainda é longo...

Tinha a sensação, até hoje, que o caminho da educação estava a andar mais para a frente, que estávamos finalmente a abrir essa "caixa" de ensino típico de séc. XIX, para deixar entrar os raios de sol de uma educação mais atual e dinâmica.


Existem videos, discursos, artigos, sobre as consequências de mantermos crianças, maioritariamente dentro da sala de aula durante horas a fio. Não há falta de informação sobre que o que importa é roupa adequada e não a temperatura lá fora (segundo os países mais a norte abaixo do -15ºC, sim começa a ser perigoso). Não faltam estudos sobre as competências que são desenvolvidas quando é dada a liberdade à criança de ela se expressar, correr riscos, brincar livremente e de arriscar.

Não falta nada disso, mas eu ainda oiço, "no verão estão sempre lá fora", o "inverno é muito frio e húmido" e quando tento (sim tento) contra-argumentar oiço "são opiniões".


Lamento, mas não são opiniões! Não são de todo opiniões, isto não é um "achismo". São factos muito concretos, investigações de anos, especialização de muitos, dedicação de muitos profissionais na área da educação que partilham com o mundo os benefícios de estar ao ar livre.


Esta forma de educar "os meus meninos", da "minha sala", como "eu quero" e que "sou eu quem mando", não coaduna com a democracia que defendemos, nem com o livre espirito ou liberdade de expressão. Onde mora a humildade? Onde mora a aprendizagem ao longo da vida? Onde mora o respeito pela diferença? A vida não faz mais sentido se for partilhada?


A sério, o que é isto? Como podemos querer educar as crianças para um futuro justo, equitativo, justo e responsável, se o que predomina na sala é a vontade de um perante a liberdade de outros. A escola não é uma equipa? Não participamos todos, não somos todos responsáveis pelas crianças?


Não digo para vivermos numa anarquia que é tudo como os meninos querem. Eles precisam de regras não de obedecer, precisam de aprender e de compreender, precisam que lhes dêem espaço para ser, mas não é com jogos do silêncio no tapete, sair em comboio e estarem todos calados a brincar "civilizadamente". As crianças falam alto e nós precisamos de lhes ensinar porque é que não é preciso gritar. As crianças desarrumam, saltam, correm, choram, gritam, esticam a corda até não dar mais, é verdade! Sabem porquê? São crianças!


Mas sabem o que ajuda? Mais rua, ar livre, floresta, praia, bosque ou jardim. De galochas, casaco, chinelos ou chapéu de sol. Precisam de rua o ano inteiro!


Manter dia após dia, durante semanas e meses, enfiados dentro de uma sala, é como se tivéssemos a criar mini bombas, que explodem quando chegam a casa stressados, que não param um fim de semana ou férias, e que deixam os pais loucos que depois afincam nos educadores e professores. Criamos um ciclo vicioso de pais e educadores exaustos, crianças a crescerem no meio de stress, sem conseguir lidar com as suas emoções, sentimentos, cansaço e frustações.


Escolas, famílias, educadores, professores e todos os interessados, a solução é simples - MAIS AR LIVRE! Não sabem como fazer? Peçam ajuda, procurem instituições e entidades que façam coisas ao ar livre. Procurem pessoas especializadas nesta área. Posso garantir com o tempo vão ver e ter crianças muito diferentes e mais felizes!


Ser educador e professor é difícil, eu sei que é difícil. Não é fácil lidar com realidades complicadas que muitos nem imaginam, com crianças que estão na escola demasiado tempo, com recursos limitados e gestões sensíveis. Este recurso está já aqui, mesmo ao lado, que tal uma manhã só com rua? Contar uma história, fazer desenhos, mexer na terra, uns jogos divertidos, que tal? Vamos experimentar só uma vez por semana? Sim?


Depois contem-me como foi.

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